Manuel Mendes da
Conceição Santos, depois de ter feito os estudos de Humanidades no Seminário de
Santarém (1890-1895), foi
mandado
a Roma pelo Cardeal D. José Sebastião Neto para completar o curso de Teologia.
Com 19 anos de idade, ia ocupar um dos três lugares criados no Seminário Romano
pelo Papa Leão XIII para alunos provenientes de Portugal. Manuel Mendes ia ser
uma testemunha e um artífice dos tempos novos em gestação.
A iniciativa pontifícia era sinal da preocupação que corria na Cúria romana acerca da formação do Clero em Portugal, do qual o Núncio A. Aiuti em 1896 traçava um quadro bastante desolador: intelectualmente sem prestígio, economicamente dependente do Governo, moralmente acomodado, eclesìalmente descomprometido. Promovendo a formação do Clero em Roma, a Santa Sé robustecia os laços de unidade da Igreja para além das fronteiras nacionais, ao mesmo tempo que subtraía gradualmente o Clero à teia do Galicanismo. Foi para se opor às malhas do Regalismo, cuja legislação punha a Igreja cada vez mais dependente do Estado, que a Santa Sé promoveu a formação de sacerdotes em Roma. Aqui se encontram as raízes da fundação do Pontifício Colégio Português em 1900.
Manuel Mendes deixou escritas as suas impressões de viagem a caminho da Cidade Eterna, em especial a sua visita ao santuário de Lourdes. Em Roma encontrou-se com um outro estudante português, João Evangelista Lima Vidal, futuro Bispo de Aveiro, que no mesmo período habitava no Colégio Caprânica e frequentava a Universidade Gregoriana.
De 1895 a 1898 frequentou o Ateneu de Santo Apolinário, onde teve como condiscípulo Eugénio Pacelli, futuro Papa Pio XII. Além da sólida formação intelectual, o tempo de estudo proporcionou-lhe a criação de amizades que mais tarde lhe foram muito úteis no seu relacionamento com Roma, como sucedeu com Tedeschini, Masella, Fumasoni-Biondi. Seria interessante percorrer o currículo dos estudos de Manuel Mendes, ainda seminarista. Nesse tempo, os estudantes dos vários Colégios tinham veste própria, pela qual se distinguiam uns dos outros. A robustez da sua formação humana e teológica ia ser posta à prova dos fortes ventos que sopraram durante as primeiras décadas do século XX : implantação da República e repercussão da 1a Grande Guerra.
Bispo de Portalegre desde 1915, foi a Roma em visita ad sacra limina em 1920, tendo sido recebido em audiência por Bento XV a 20 de Maio e 3 de Junho. Durante a sua permanência em Roma ocorreram várias cerimónias de beatificações e de canonizações, às quais assistiu com grande devoção: Luisa de Marillac, Gabriel de Nossa Senhora das Dores, Margarida Maria Alacoque, Joana d'Arc, Edmundo Plunket, Ana Maria Taigi. Em Roma teve conhecimento da sua nomeação como bispo coadjutor do Arcebispo de Évora, D. Augusto Eduardo Nunes. Desta sua viagem, ou melhor desta devota peregrinação por vários santuários da Europa deu conta aos seus diocesanos numa longa relação, onde se reflecte o seu amor ao Santo Padre, o seu entusiasmo com as cerimónias litúrgicas, a sua admiração por Roma como monumental cidade e capital da Cristandade. Aí fala também, cheio de esperança, do Colégio Português (Palácio Senni), onde nessa altura residiu, e, com grande dor, dos efeitos da Guerra ainda sensíveis na Itália.
No ano de 1933, celebrou-se com a solenidade possível o Ano Santo da Redenção. Não obstante os problemas com que a Europa se debatia, D. Manuel Mendes partiu em peregrinação para Roma, no mês de Setembro para regressar a 15 de Outubro. Quatro anos mais tarde, em 1937, foi a Paris por razões de saúde, e durante essa estadia deslocou-se a Roma, onde o Santo Padre o recebeu na residência estiva de Castelgandolfo, no dia 12 de junho. Em 1940, o Arcebispo de Évora fez chegar ao Papa Pio XII uma mensagem da Madre Inês de Jesus, do Carmelo de Lisieux.
Poucos anos após a 2a Guerra, em 1947, D. Manuel assistiu em Roma à canonização de S. João de Brito, tendo feito a viagem a partir de Lisboa no vapor "Mouzinho". Em 1950, D. Manuel encontrava-se em Roma, com uma peregrinação nacional, no mês de Maio, para voltar para o acto solene da definição dogmática da Assunção de Nossa Senhora em 1 de Novembro.
Não são de excluir outras viagens do Arcebispo de Évora a Roma. Estas são mais que suficientes para poder avaliar o timbre da sua « romanidade ». Ir a Roma significava para D. Manuel Mendes robustecer a fé e a comunhão, percorrendo o caminho do peregrino que o levava aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo e o fazia viver as celebrações dos grandes acontecimentos eclesiais.
A. Cardoso