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Nascimento e infância

Manuel Mendes da Conceição Santos nasceu em lar cimentado pela provação da dor, mas ornado de virtudes cristãs, a 13 de Dezembro de 1876, na freguesia de Olaia, concelho de Torres Novas, filho de Manuel Mendes e de D. Maria da Conceição Rodrigues Mendes.

Pobres de bens terrenos, mas ricos de dons celestes, seus pais educaram-no piedosamente, principalmente sua mãe, de cuja ternura, piedade e sofrimento guardou sempre doce e indelével recordação Como Branca de Castela, mãe de S. Luís IX, rei de Franca, ela trazia continuamente no coração e nos lábios esta oração pelos filhos, também filhos de Deus pelo Baptismo : « Meu Deus, não permitais que domine o pecado na consciência daqueles que receberam tão puro sacramento ».

Nas « Reminiscências e impressões » do seu Diário, em Quinta-feira Santa, 28 de Março de 1927, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, passando já da meia-noite, depois de haver meditado na agonia do Senhor no Jardim das Oliveiras, escrevia esta sentida evocação da morte de sua mãe, ocorrida um mês antes :

« A oração no horto, o fiat de Jesus comunicam à minha alma uma secreta energia. No meio da minha saudade é-me doce repetir, também, muito perto do Coração ansiante de Jesus que me escuta, o meu fiat. Eu bendigo o Vosso amor que me levou a minha Mãe e Vos ofereço este sacrifício. Muito antes de ser minha, ela era Vossa, fostes Vós, que qual solícito jardineiro, fizestes brotar e cultivastes na sua alma as virtudes que a tornavam bela [...] verdadeira filha de S. Francisco, não só pela profissão de Terceira, mas ainda pela humildade, pela austeridade e pela vida de mortificação, era bem digna de descer à terra com aquela libré. O rosário que lhe pende do cordão e a medalha de filha de Maria, que lhe brilha sobre o peito inerte, estão ali a atestar como ela amou a Mãe celeste. Foi depois de Jesus o seu grande amor e a sua grande esperança. Bastas vezes ela dizia que, ao ver-se sem meios para nos educar, nos entregava a mim e a meu irmão, à Virgem Santíssima. »

Foi longa a citação, mas necessária para se compreender o reflexo e a ressonância da educação materna na alma deste futuro Bispo, cuja inocência angélica, três anos antes da morte, em 1952, nos apontamentos de retiro, ele pedia ainda a Deus : « Senhor, fazei-me puro como um anjo ».

Razão tinha o seu antigo secretário e confidente íntimo, D. José da Cruz Moreira Pinto, Bispo de Viseu, ao afirmar no seu elogio fúnebre das exéquias do 30.° dia, na Catedral eborense : « ... temos pelo seguro que este homem, este cristão, este padre, este Bispo, nunca perdeu a inocência baptismal ».